sexta-feira, 25 de julho de 2008

Bancos tornam-se mais selectivos no crédito


Crédito Habitação

Os Açores, tal como o resto do país e a Europa, atravessam actualmente uma crise económica marcante, devido à subida do preço do petróleo. Como se não bastassem os constantes aumentos dos preços dos combustíveis, as taxas de juro são cada vez mais altas, o que causa um grande impacto na vida das famílias portuguesas, especialmente no que toca ao Crédito Habitação. Segundo Ricardo Espírito Santo Salgado, presidente do Grupo BES, em caso de dificuldade no pagamento das prestações, a pessoa deve “imediatamente” contactar com o banco, que tem serviços cada vez mais “especializados” nesta área, para um possível “alargamento dos prazos” de crédito ou um eventual “fixar” das taxas, o que garante também ser possível.
As taxas de juro são cada vez mais elevadas, o que prejudica em grande escala as famílias portuguesas. O objectivo do Banco Central Europeu é travar a inflação, que, por sua vez, não foi gerada na economia nacional nem europeia. O importante é combinar com o banco uma forma de poder pagar as respectivas mensalidades, baixando-as ou impondo taxas fixas. Do lado da banca e para lidar com a falta de pagamentos, estes apenas podem ser mais selectivos na atribuição de crédito.


Ricardo Espírito Santo Salgado, presidente do Grupo BES, lembra que as taxas de juro têm estado a subir, porque, “infelizmente, o problema da inflação envolve-nos a todos”. A política da taxa de juro, explica, é estabelecida pelo Banco Central Europeu, correspondendo a subida das taxas de juro a um “travão” no desenvolvimento da inflação, que faz parte da política monetária de crédito. “Uma das formas de travar a inflação é, sem dúvida, a subida das taxas de juro”- realidade que considera “inexorável”.
Por outro lado, infelizmente, a inflação “não é uma inflação originada na economia regional, nacional ou europeia”. Provém, si, de um “choque externo” e que tem a ver com o “aumento do preço do petróleo e com a subida das chamadas commodities” (embora sejam mercadorias primárias, estas possuem cotação e ‘negociabilidade’ globais. Logo, as oscilações nas cotações destas commodities têm um impacto significativo nos fluxos financeiros mundiais, podendo causar perdas a agentes económicos e até mesmo a países). Tudo isto, tem levado a uma subida dos preços a nível “mundial”, o que lamenta.
E continua, dizendo que o Banco Central Europeu à frente do Federal Researt nos Estados Unidos tem “subido” as taxas de juro e o Federal na América “baixou as taxas de juro, devido ao colapso económico”, que os Estados Unidos estavam a enfrentar. Ricardo Salgado acrescenta que “parecem estar a conseguir travar naturalmente ou a evitar de justeza uma recessão, mas inexoravelmente a inflação está a crescer também nos Estados Unidos, com elevadíssima probabilidade das taxas de juro subirem também na América”.
Referindo-se à alteração no nível de vida das famílias, afirma que o impacto é “evidente” e torna tudo o que tem a ver com o crédito aos particulares, crédito habitação e crédito de consumo e todas as modalidades de crédito “mais onerosas, criando dificuldades” aos orçamentos familiares. Apesar de reconhecer, que uma situação destas cria “dificuldades acrescidas” às famílias, o empresário aponta algumas eventuais soluções, como o “alongamento dos prazos de crédito” ou a possibilidade de estabelecer “taxas fixas”.
Vendo o outro lado da moeda, convém salientar que um quadro destes prejudica igualmente a banca, pois as pessoas “falham muitos pagamentos”. É evidente que, explica, quando as prestações se tornam “mais caras” e as famílias não conseguem dominar este “círculo infernal” da subida dos juros, que acaba por se traduzir numa sinistralidade “maior” do crédito, os bancos vêem-se também obrigados a serem “mais selectivos”, na concessão de crédito. É “inevitável”.
O presidente do grupo BES aproveita ainda para dizer que as taxas de juro têm subido “drasticamente”, lembrando que há cerca de três anos atrás estas estariam na casa dos “3 ou 3,5% e, agora, vão ultrapassar os 5%”, atendendo ao ‘spread’ que os bancos levam aos clientes para, efectivamente, terem uma “remuneração no risco de crédito que concedem.
Para contornar a situação a nível da banca, Ricardo Salgado admite que resta apenas “esperar que a inflação regrida”, pois trata-se de um “choque externo”. Afirma ainda não ter “dúvida nenhuma”, de que o Banco Central Europeu irá “reduzir as taxas de juro, logo que o perigo de uma inflação descontrolada não se verifique”, verificando-se então uma “queda” nas mesmas.
Em relação às famílias, a possível solução está, a seu ver, numa “maior retracção na procura de crédito” ou, acentua mais uma vez, no “alongamento dos prazos dos empréstimos” para terem prestações mensais mais baixas. Reconhece também tratar-se de uma situação “muito complicada” , tendo cada um, naturalmente, de fazer os ensaios e exercícios que puder, para se procurar “enquadrar” dentro destas dificuldades.
Além da habitação, o que leva as pessoas a contraírem crédito é fundamentalmente o “crédito ao consumo” de bens da mais diversa natureza, como um “automóvel ou um frigorifico”. O empresário argumenta que actualmente as pessoas procuram ter padrões de vida com “maior qualidade” através do crédito, mas, sublinha, “há riscos”.
As pessoas que tenham dificuldades em se enquadrarem dentro das prestações normais a que têm de fazer face, considera, devem “procurar imediatamente o banco, no sentido de reestruturarem a sua operação de crédito de forma a diminuir o encargo mensal”. Mas devem fazê-lo rapidamente, antes que a situação se “degrade”. Os bancos estão preparados também para “aceitar uma distribuição dos encargos financeiros que não seja a mesma, linear ao longo do tempo”. É possível, ainda, estabelecer “taxas fixas” para combater esta situação.
Eventualmente, em último caso podem tentar “entregar a habitação se não tiverem condições de liquidação e resolverem com isso o seu passivo e alugar outra em melhores condições bancárias, mas de facto a situação não é fácil”-reconhece, aconselhando “ vivamente” a que as pessoas ‘conversem com os bancos’, cujo “atendimento é cada vez mais especializado”, no sentido de comporem uma situação que lhes seja mais fácil.

Raquel Moreira
Public in Terra Nostra, Julho de 2008.

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